A idade embriológica da gestação é contada a partir da fecundação do
óvulo. No entanto, é praticamente impossível a identificação do momento em que
ocorreu a fecundação ou a data correta do coito ou da ovulação. Por isso,
convencionou-se contar a idade da gravidez a partir de um marco mais fácil de
identificar: o primeiro dia do último período menstrual da mulher. Trata-se da idade obstétrica da gravidez. Quando o clínico ou
o ultrassonografista se refere a qualquer idade gestacional, está usando como
marco esta data. É evidente que no período entre o início do ciclo menstrual e
a fecundação (supostamente ocorrida 14 dias depois do início do ciclo
menstrual) ou a nidação (considerando-se o
início fisiológico da gravidez na mulher) não há ainda a gravidez. Trata-se de
marcador impreciso, mas é o único disponível.
A idade gestacional (IG) é definida como o tempo transcorrido entre o
primeiro dia da última menstruação (DUM) e a data atual, medido em semanas e
dias. A duração da gravidez tendo-se como base a DUM é, em média, de 280 dias
ou 40 semanas, 10 meses lunares (de 4 semanas). Devemos nos lembrar que a
duração da gestação varia segundo as características da mãe e do concepto.
Também pode haver imprecisão na caracterização do último período menstrual.
Em aproximadamente 20% dos casos, observa-se discordância entre a idade
gestacional calculada pela DUM e aquela estimada pela ultrassonografia. O exame ultrassonográfico é
mais preciso para a avaliação da idade gestacional quando efetuado
precocemente. Quanto mais precoce o exame, mais precisa esta avaliação. Nesses
casos, se a idade calculada pela DUM se situar dentro da margem de erro da
estimativa ultrassonográfica (aproximadamente ±1 semana no 1° trimestre da
gravidez, ±2 semanas no 2° trimestre da gravidez e ±3 semanas no 3° trimestre
da gravidez), ela é aceita como correta. Caso contrário, utiliza-se a idade
calculada pela ultrassonografia co
mo datação
para a gestação.
Estágios no desenvolvimento
pré-natal com as semanas e os meses numerados por idade gestacional
A gravidez pode acontecer de várias formas. A mais comum acontece quando
o pênis penetra a vagina. Quando há uma grande expelição de esperma, alguns espermatozoides podem conseguir atingir o óvulo. Uma outra forma é pela fertilização in vitro.
Períodos da gestação
Gravidez a termo - Entre 37 semanas completas e 42 semanas incompletas.
Gravidez pós-termo - 42 semanas completas e mais. Gravidez pré-termo ou
prematura - Menos de 37 semanas e mais de 20-21 semanas completas. Período de
abortamento - Concepto com menos de 500g (gravidez de menos de 20-22 semanas)._
42 semanas o bebê pode entrar em sofrimento fetal?
Adaptação do organismo materno
A presença e o crescimento do feto e da placenta determinam um conjunto
de fenômenos adaptativos físicos, hormonais e bioquímicos do organismo materno.
Na gravidez ocorre um aumento de todos os hormônios e ainda surgem outros como a gonadotrofina
coriônica humana( hormonio exclusivo da gravidez) e o lactogênio placentário.
O volume e a massa uterinos aumentam e assim determinam o aumento abdominal, o
aparecimento de estrias e as adaptações posturais maternas.
Também o metabolismo energético e de sais minerais se
altera com o processo1 .
Modificações locais
Estas modificações estão relacionadas aos órgãos genitais,
que são afetados tanto pelo crescimento fetal, quanto pelas alterações
hormonais vigentes.
Útero
O útero tem seu volume aumentado em centenas de
vezes, sua consistência diminuída e sua massa aumentada de menos de 100g para
mais de 1 kg. De piriforme torna-se globoso e, depois da vigésima semana,
cilíndrico. Esta última alteração é também chamada de conversão uterina. Seu
crescimento na posição inicial de anteversoflexão é acentuado até a décima
segunda semana, o que causa compressão da bexiga e, por isso, aumento da frequência urinária. Após esse
período, o crescimento torna-se mais longitudinal e a fixação do colo sigmoide no retroperitôneo determina uma dextrorrotação do
órgão. A acomodação uterina também envolve a hiperplasia do miométrio, antes da nidação, e, após este fenômeno, sua hipertrofia e seu alongamento, dependente do
estiramento das fibras musculares
lisas. O espessamento do muco cervical, determinado
principalmente pela atuação da progesterona, é responsável pela formação da Rolha de Schröder,
que isola o ambiente fetal do ambiente externo, como uma proteção contra
infecções. A percepção materna do desprendimento desse muco é um sinal de
abertura do colo uterino podendo
estar associada à proximidade do parto2 3 .
Vulva e vagina[
A vulva e a vagina tornam-se flexíveis e edematosas. A secreção vaginal
torna-se espessa e esbranquiçada. A coloração torna-se mais acentuada devido ao
aumento da vascularização nessas áreas. A vagina se adapta de acordo com o
crescimento do feto, tornando-se flexivel.
Modificações gerais
Estas modificações estão relacionadas aos diversos órgãos e sistemas do
organismo.
Seios
Mudança nos seios na gravidez, as principais mudanças são o
aumento dos seios e o escurecimento da aréola.
A região dos seios é uma das que primeiro sofre modificações. Os seios
aumentam de volume e vasos sanguíneos podem ficar visíveis, formando a chamada Rede de Haller. A aréola fica com uma coloração mais escurecida e
surge a aréola secundária (Sinal de Hunter). Glândulas sebáceas
podem se hipertrofiar no mamilo e na aréola (Tubérculos de
Montgomery). Ao final da gestação surgem as primeiras secreções de
colostro, líquido fino e amarelado fundamental na alimentação do bebê em seus
primeiros dias de vida, pois é rico em anticorpos e pró-vitamina A4 5 .
Pele
É comum haver hiperpigmentação da pele com o aparecimento de cloasma e da linha
nigrans no abdomen. O incremento da vascularização de folículos pilosos pode promover hipertricose com o surgimento de pêlos finos na
face (Sinal de Halban). O
acúmulo de tecido adiposo e o crescimento das mamas e do útero distendendo o abdome podem provocar o
aparecimento de estrias nessas regiões e nas coxas.
Coração e vasos sanguíneos
Por meio de diversos mecanismos ocorre aumento da perfusão sistêmica e uteroplacentária. O volume
plasmático aumenta progressivamente a partir da sexta semana e o volume de hemácias aumenta depois da oitava semana. Ambos
os volumes tornam-se estáveis nas últimas semanas, mas, como o aumento do
volume plasmático é mais precoce e tende a ser mais acentuado do que o aumento
do volume de hemácias, ocorre um efeito dilucional responsável pela chamada anemia fisiológica da gravidez. Para se adaptar a essas
alterações também o coração se hipertrofia, desviando-se para frente e para a
esquerda, havendo também o aumento do débito cardíaco. O
nível rebaixado da pressão arterial é
conseqüência da diminuição da resistência vascular periférica por ação do estrógeno sobre a gênese de vasos, da progesterona sobre o relaxamento e dilatação dos
mesmos, mas também pela diminuição da reatividade vascular aos vasoconstritores
endógenos. As alterações envolvendo os fatores de coagulação
preparam o organismo da mulher para o momento do parto
para que haja um rápido controle de hemorragias, mas, em contrapartida, predispõem a
um risco aumentado de trombose durante a gestação
e, principalmente, durante o puerpério. A compressão da veia cava inferior
pelo útero diminui o retorno venoso e predispõe ao
surgimento de varizes nos membros inferiores1 6 .
Digestão
A fome, o apetite, a sede e a salivação aumentam durante a gestação.
Pode haver perversão do apetite, que é a vontade de comer substâncias não
convencionais como terra, giz, argila, carvão, etc. Por outro lado pode ocorrer
aversão a certos alimentos. Os episódios de vômitos e os desejos de comer
alimentos específicos podem estar relacionados às ações da gonadotrofina
coriônica humana, produzida na placenta. Os efeitos relaxantes da progesterona sobre as fibras musculares lisas, presentes em todo o
sistema gastrointestinal, determinam a predisposição da gestante a refluxo
gastroesofágico e regurgitação, por diminuição da função do cárdia, sensação de plenitude gástrica e
saciedade, por aumento do tempo de esvaziamento gástrico e da diminuição da
contratilidade da vesícula biliar, e constipação intestinal
e aparecimento de hemorróidas por diminuição
dos movimentos peristáticos
intestinais1 .
Excreção urinária
Em decorrência do aumento do fluxo sanguíneo, há uma elevação da taxa de filtração
glomerular e o aumento da função renal. O organismo passa a reter
mais sódio e água, o que arredonda as formas corporais
da gestante. A dilatação do sistema coletor urinário principalmente do lado
direito, em decorrência da dextrorrotação uterina, mas também por relaxamento
de fibras musculares
lisas, induzido pela progesterona, predispõe
à formação de cálculos renais e a
infecções do trato urinário.
Respiração
O crescimento do útero em direção ao tórax e o aumento volumétrico do coração diminuem o volume pulmonar. Isto é
parcialmente compensado pelo aumento do diâmetro da caixa torácica. Além disso, a progesterona atua nos centros respiratórios do bulbo raquidiano, elevando a freqüência
respiratória, o que contribui para o aumento das trocas gasosas na placenta. Nas vias aéreas superiores pode haver rinite vasomotora com conseqüente obstrução nasal, devido à
retenção hídrica e aumento do aporte sanguíneo nessa região1 .
Ossos e articulações
A mudança do eixo da coluna vertebral na gestação relaciona-se à
acentuação da lordose lombar e à mudança do padrão de marcha
materna, chamada de anserina por se assemelhar ao andar de um pato. Com a
retenção hídrica, os ligamentos e as cartilagens tornam-se mais elásticos, o que
prepara a pelve para o momento do parto,
mas aumento o risco de luxações, entorses e fraturas em membros e outras regiões1 .
Alterações neuropsíquicas
Pode haver aumento da sonolência, dificuldade de concentração,
labilidade emocional, ansiedade, insegurança e
falta de libido. As alterações hormonais podem estar
relacionadas com a origem dessas alterações. Desmaios podem ocorrer em virtude das alterações
na distribuição sanguínea.
Cordão umbilical
Projetado do que será o umbigo do bebê, canal através do qual a criança
recebe a alimentação.
Referências
- ↑ Ir para: a b c d e Carrara HHA, Duarte G. Semiologia obstétrica. Medicina
Ribeirão Preto, 29, 88-103, jan-mar. 1996.
- Ir para cima ↑ Berek JS et al. Berek
& Novak. Tratado de Ginecologia. Guanabara Koogan, 2008.
- Ir para cima ↑ Amigas do parto. FAQ Secreções vaginais durante a
gestação e parto. acessado em 5 de setembro de 2010
- Ir para cima ↑ Modificações no organismo da mulher em função da
gravidez acessado em 6 de setembro de 2010
- Ir para cima ↑ Ricco RG, Almeida CAN, Ciampo
LA. Temas de pediatria, 80, Puericultura, Nestlé Nutrição infantil, 2005.
- Ir para cima ↑ Hoffbrand AV, Moss PAH,
Pettit JE. Fundamentos em Hematologia. Artmed, 2008.